O incrível Programa de Seleito Silva
Seleito é um cara simples. Sempre foi pobre. Trabalhou desde os sete na roça, quando carpia, colhia mandioca e raleava o algodão. Mesmo assim, estudou. Terminou o segundo grau e, “forçado” pela irmã, chegou a passar no vestibular em Curitiba. Na época, foi selecionado para Educação Física. Mas desempregado, não teve condições em manter a mensalidade. Desistiu.
Comunicativo, há dois anos, numa brincadeira com amigos, decidiu imitar alguns locutores de rádio. Foi um sucesso imediato. Os companheiros não só o incentivaram, como pediram para que montasse uma pequena rádio. Então, sem recursos, o jeito foi apelar à ferramenta do Whatsapp. Montou um grupo e, a cada dia, mais gente pedia para participar. E isso acontece até hoje.
Diariamente, Seleito apanha notícias dos sites e as envia aos participantes. Além de ler as postagens, a turma ainda as debate. Pior se forem notícias políticas, entre a direita e a esquerda. Aí o pau quebra. Mas sempre com opiniões. Quase nunca com agressões. “Tem gente de muitas cidades no grupo. Tem até de outros estados”, diz o comunicador.
Entre as notícias, pausas para entrar ao “vivo”. Ele fala do tempo, as vezes lê um salmo. Também faz propaganda. Já possui dois patrocinadores. Ao todo, R$200 por mês. É quase nada, mas bastante para incentivá-lo. Dias desses, as notícias pararam. Preocupados, alguns membros buscaram informações. E descobriram que Seleito estava sem celular. “Fui ao banheiro e quando vi, o aparelho tinha caído na privada”, disse.
Sem grana, o jeito foi ajudá-lo. A turma fez uma vaquinha e reuniu R$900. Foi a salvação. A verba foi usada ao novo celular. Agora, até com capinha. No mesmo dia da entrega, Seleito voltava ao ar. Desta vez, agradecendo a turma toda. “Eles disseram que sem mim, o grupo não podia existir. Achei bem bacana o que fizeram”, disse.
Aos 33 anos, Seleito é um sujeito descolado. Brinca com todos e não perde a chance em “filar” o wifi de alguém. Quase todos os dias, empresta a rede do amigo Roberto. Dono da mercearia local – uma espécie de venda à moda antiga -, ele já até se acostumou com o comunicador. É que, ainda pelas manhãs, Seleito já chega com sede. Mas não uma sede de água: de cachaça mesmo.
Bebendo desde os 16, ele sabe que o hábito não tem sido bom à sua saúde. Dias atrás, caiu. Teve convulsões e acabou no hospital. Lá, a médica teria dito: “Ou você para ou vai morrer cedo”. “Eu dei razão pra ela. O álcool não está sendo bom pra mim. Como não consigo parar, decidi procurar uma clínica de recuperação”, revelou. Segundo ele, exames já foram realizados. Falta agora, apenas o dia do comunicado chegar. O chamado à própria redenção.
Seleito Aparecido da Silva, o criador do “Programa Seleito Silva”, lembra que o vício sempre o levou para baixo. Em todos os sentidos. Bêbado, já se enfiou em confusões. Apanhou e bateu. Mas, a pior delas, foi trabalhar numa boa empresa e, depois de conseguir comprar um carro de R$18 mil, acabou o perdendo. Ou melhor, o bebendo. “A bebida faz você perder o juízo. Fiz muita festa e quando vi, já tinha vendido o carro”, disse.
Seleito nasceu em Bredápolis. A comunidade, com cerca de 500 pessoas, pertence ao município de Janiópolis - 15 quilômetros separam as duas. Os pais também eram da lavoura e tiveram nove filhos. Com a morte deles, acabou morando com uma das irmãs. Nunca se casou, tampouco teve filhos. Além de pegar wifi de amigos, é na praça onde também faz o programa. Lá, a rede da igreja é aberta e gratuita.
Mas já ao final da prosa com o repórter, chega um de seus amigos e dispara: “Quando Seleito morrer vai ser enterrado fora do cemitério. É que nego bom não se mistura”, disse rindo. Ele também trazia um corote de aguardente. Bastou alcançar o balcão para abrí-lo. Carregava um facão dentro da blusa. Nada demais. Apenas a ferramenta da labuta do campo. E entre goles e conversas, os dois ali permaneceram. Já o repórter, saiu de fininho, pronto a contar a história do incrível comunicador do Whatsapp.
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