Adalberto, o escultor de sonhos
Adalberto cresceu em meio à lavoura. Ao lado dos pais e irmãos, foi criado num ambiente rural, distante das quizumbas urbanas. Estava no município de Nova Tebas. E foi lá, quando descobriu o dom em esculpir. Certo dia, ainda aos seis anos, enquanto trabalhava na roça, fez uma pequena esfinge em madeira. A família não acreditou. Tempos depois, levou a criação até a professora. A surpresa dela foi a motivação do menino. Havia um talento nato ali. Desde então, nunca mais parou.
Perplexa com o dom de Adalberto Mairik, a professora o convidou para ir até um museu em Curitiba. “Fiquei encantado com tanta perfeição”, revelou ele. Vendo diversas esculturas na capital, passou a ter certeza do que queria. Na volta, não parou mais. A arte na madeira, começou a ser o seu prazer diário. Mesmo assim, continuou ajudar a família. Juntos, desenvolviam uma agricultura orgânica, sem a aplicação de agrotóxicos. Se antes cultivavam maracujá e morango, hoje, a cultura é a acerola. Os pais continuam em Nova Tebas.
Já adulto, até os 24, Adalberto continuou na lida do campo. Embora, o sonho em ser um escultor reconhecido, se mantinha, deveras, escondido. Ele não se imaginava na profissão devido a falta de oportunidades, principalmente, vivendo na pequena cidade. Mas a vida é feita por muitos mistérios. E não há o que não se possa r ealizar. O jovem então se inscreveu num curso do Sebrae. Queria ser empreendedor. E foi lá, que o destino o levou, definitivamente, à arte.
No curso, Adalberto conheceu uma mulher. Era uma das tantas amigas do empresário Áter Cristófoli, de Campo Mourão. Ela sabia do desejo dele, em dar oportunidades a artistas. Um dia, levou um dos trabalhos de Adalberto para que visse. “Eu expliquei a ela que era autodidata. Jamais havia feito cursos para a escultura”, disse. Áter gostou do que viu e convidou o jovem a conhecer o ateliê da Fundação Educere. A obra levada está até hoje em exposição na entidade.
Em Campo Mourão, Adalberto iniciou sua arte, agora, em rocha, de basalto e arenito. Era um dos sonhos dele. Mais adiante, solidificou os desejos de criança. “Passei a fazer esculturas em mármore”, lembrou. A partir daí, o jovem mudou à cidade. Passou a fazer obras sob encomendas. E iniciava os primeiros rendimentos com a arte.
E como manter-se da arte num país como o Brasil? Adalberto descobriu isso na unha. Com o tempo, foi vendo todas as dificuldades. Quando pedidos paravam, a grana não vinha. Então, dava um tempo do ofício buscando outras alternativas. Por algumas vezes, foi obrigado a deixar a Fundação para trabalhar em marmorarias. De vez em quando, também retomava as raízes, conquistando uma vaga em fazendas da região. Não dava pra esperar. A vida é dura. Como o mármore. “Eu tenho ego. Não podia depender apenas do meu padrinho”, disse.
Mesmo atuando em outras áreas, para se manter, Adalberto nunca parou de ser um escultor. Fez cursos em escultura de fundição, em Curitiba. E, quase ao mesmo tempo, se casou. Como a arte tem seus altos e baixos, nos momentos de dificuldades, a esposa dá suporte. “A arte é assim. Tem momentos, meses, sem demanda. Sempre tenho que ter uma segunda opção”, disse.
Adalberto trabalhou na lavoura até os 24. Ele também dedicou tempo em cursos na agricultura orgânica. Mas agora, a vida seguiu noutra direção. Recentemente, ele voltou à Fundação Educere, a pedido de Áter. O objetivo é fazer um índio, em roving, material utilizado com liga para laminação. Futuramente será fundida em bronze. A obra está quase pronta. Será colocada em frente ao prédio do empresário. E é ali também, um sonho compartilhado entre os dois: criar uma escola voltada às artes. Fazer ali, com que pessoas tenham um lugar para se capacitarem. Sonharem. E eles sabem que caminhar sozinho, é mais difícil. Muito mais.
Adalberto diz que tem vontade em repassar o aprendizado e suas técnicas. É um prazer até mesmo, como a arte em si. Segundo ele, com um rol maior de obras e artistas, chamaria mais atenção da população. “Quero passar meu conhecimento. De coração. A arte deve ser expandida”, revela. Com o passar dos anos, o menino escultor cresceu. Hoje, aos 40, é casado e possui duas lindas obras de arte: Poliana e Maria.
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