Armin desafiou os ciclos. E, aos 86, fará faculdade

Armin desafiou os ciclos. E, aos 86, fará faculdade
Por: Dilmercio Daleffe


Como definir a vida humana? Em fases? Infância. Adolescência. Juventude. Terceira idade? Para alguns, a divisão é fácil. Está baseada na mais simples fórmula matemática. Cada passo, um ciclo. Mas ao produtor rural Armin Dummer, não é bem assim. Aos 86 anos, ele acaba de passar no vestibular. Vai cursar Biomedicina. Então, a partir do próximo ano, unirá o campo, aos campos do conhecimento. Armin desafiou os “ciclos”. Peitou a juventude. E tomou uma vaga para si. Na gíria dos adolescentes, ele é o cara.

O produtor tem uma fazenda de 170 alqueires em Mamborê. Há alguns dias, estava sobre o trator plantando milho em uma área de 50. Ele, de um lado. O filho, de outro. Cada um em seu trator. Armim é o típico guerreiro do campo. Trabalha mesmo não podendo. Faz trabalho de jovem. Dias desses, caiu da máquina de passar adubo. Quebrou o braço. Ainda engessado, não foge do trabalho. Semeou milho durante toda a semana. Ele não está nem aí. Não há dores maiores que a força de vontade. A verdade é que Armin é exemplo pra muita gente.

Sujeito pacífico, mas extremamente na dele, fugiu da reportagem o quanto pode. Até as mensagens via celular, parou de responder. Mas “NOSHUMANOS” foi mais persistente. E o encontrou no campo. Era uma manhã de sol intenso. Calor já cedo. Lá longe, um senhor pilotando um trator azul. Daqueles modernos. Com ar condicionado e tudo mais. Assim que se aproximou do carro da equipe, fez a gentileza em parar.

A prosa foi curta. Muito curta. Deixou ser fotografado. E prometeu voltar a conversar no “zap zap”, à noite. “Estou plantando. Agora não consigo falar”, disse a este repórter. Estava com o braço direito ainda engessado. Mesmo assim, trabalhando. Sem parar. Armin é diferenciado. Para ele, o trampo não pode parar. A vida não pode parar.

Descendente de alemães, leva uma vida quase secreta. A família é discreta. Na propriedade apenas três pessoas: Armin, o filho, Walter, e a esposa, Valy. Entre eles, a língua alemã. Também buscou inovar na agricultura. Faz um ciclo diferente do convencional. Enquanto os demais plantam duas a três culturas ao ano, ele vai em uma só. Este ano, optou pelo milho. Sempre foi assim. Ele não muda. Afinal de contas, em time que está ganhando, não se mexe. Já diz o ditado.

Armin teve os pais vindos da Alemanha. Foi durante a segunda grande Guerra. Chegaram ao interior paulista. Mais especificamente, Nova Europa. Mas depois, buscou as terras vermelhas do Paraná. Acabou em Mamborê. Valy, a esposa, sempre foi o braço direito. Ela ajuda no trabalho da fazenda até hoje. E, sempre, ao lado do filho, Walter. Juntos, os três comprovam uma das maiores forças da natureza: o trabalho em família.

Conta o produtor que decidiu fazer o curso para obter mais conhecimentos. E ele tem todo o direito a isso. Prova que, apesar da idade, o homem não possui limitações. Além de que, nunca é tarde o bastante para aprender.


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