As marquises de Rubens e Cássia

As marquises de Rubens e Cássia
Casal foi retirado das ruas por uma igreja de Campo Mourão
Por: Dilmercio Daleffe



Rubens e Cássia estão juntos há 12 anos. E acabaram nas ruas de Campo Mourão desde novembro do último ano. Contam que a vida desandou em setembro, depois que decidiram ajudar uma família em vulnerabilidade social, em Abaté, interior de São Paulo. Até aquele mês, tinham emprego, teto e tudo caminhava bem. Mas bastou alojar o casal pra que o mundo virasse de ponta cabeça.

Aos 30 anos, Rubens Cardoso trabalhava como pintor e servente de pedreiro. Ganhava o suficiente para manter a companheira e a filha, hoje com seis anos. Não tinham luxo. Mas viviam com dignidade. E, principalmente, com um teto. “Decidi ajudar um casal que estava na rua. E isso acabou com a gente”, lembra.

Segundo ele, no início o sujeito era pacífico. E sempre agradecia pela mão estendida. Mas, depois de alguns dias, começou a usar drogas na casa. “O temperamento dele mudou. Ficou agressivo. E passou a querer seu eu. Até chegar o dia em que pegou uma faca e me acertou”, disse. Mostrando a cicatriz num dos braços, Rubens explicou que pegou suas coisas, a mulher, a filha e sumiu de lá. “Tive que deixar muita coisa, até o emprego. Depois disso, caímos na rua”, afirmou.

Para não expor a filha à vulnerabilidade social, a deixou com a mãe. A promessa era voltar para apanhá-la. Principalmente, depois de se estabilizar. Mas, passados oito meses, as coisas só pioraram.
Em outubro de 2022 o casal rumou até São Francisco, em Santa Catarina. Lá, as coisas deram errado. Sem emprego, rumaram até Joinville. A empreitada também não vingou. Então, a pé, subiram a serra até Curitiba. E, mais adiante, chegaram a Campo Mourão.

Na cidade desde novembro, ganharam as marquises da área central. Se alimentam de doações. Banho, às vezes. Rubens e Cássia já ficaram um mês sem uma ducha. Ao lado de todo o pouco que possuem, estendem duas ou três cobertas na calçada. E por ali permanecessem em busca de piedade.

“Eu queria um emprego e um lugar pra morar. Não estamos na rua porque desejamos. Acreditamos em Deus e sabemos que vamos sair dessa situação”, diz Rubens. E, se até pouco tempo eram dois, agora a “cama” abriga três. O casal adotou “Tiquinho”, um cãozinho caramelo abandonado na porta de um supermercado do centro de Campo Mourão. Se há comida para dois, três também se alimentam.
Em tempo: Segundo informações, o casal não está mais na rua. Há alguns dias, uma igreja os ajudou. Os levando a um abrigo.

Cresce o número de pessoas em vulnerabilidade social em Campo Mourão

Não se sabe quantos são. Quem são. De onde vêm. O que querem. Pra onde vão. Mas eles não param de chegar. Em vulnerabilidade social, os ditos “invisíveis” perambulam em busca de algo que, por muitas vezes, nem mesmo eles sabem o que seja. Deixaram lares, famílias, o passado. E caminham passo a passo, sem jamais serem percebidos pelos olhos da sociedade. Seguem as placas. Mas caminham sem direção.

Em Campo Mourão a sua presença ficou mais evidenciada no pós pandemia. Sob marquises e praças, é evidente o maior número de pessoas sem teto. É bem verdade que a maioria delas não deseja ali estar. São sobreviventes das grandes cidades e que, por motivos como o alcoolismo ou frustrações amorosas, deixaram tudo. Outra parcela é refém de entorpecentes. Mais especificamente, o crack. Estes, optaram pela própria “liberdade”. E viraram uma espécie de fantasmas de si mesmos. E numa guerra contra demônios, acabaram vencidos. Vencidos por seus próprios demônios.

Mas, seja qual for o motivo, todos são atendidos pela Casa de Passagem São Bento José Labre. Coordenada por freis franciscanos, o local é um dos poucos, senão o único, capaz de abrigar pessoas vulneráveis na cidade. Dados da própria entidade revelam que em 2022 uma média de 18 pessoas foram atendidas por dia. A alta demanda fica mais evidenciada com os números deste ano, que aumentaram para 23.

O abrigo conta com alimentação, banho, cama, cobertores, além de um carinho a quem nada tem na vida. “Nossa missão é a de acolher quem mais precisa. Fora os que aqui chegam, também vamos às ruas em busca de pessoas desabrigadas”, disseram os freis.



Whatsapp Facebook Copiar link

Deixe seu comentário



Voltar