La Paula está enlutado
Na chegada à capital paranaense, a família abriu o Chic Bar, na Praça Tiradentes. As atividades duraram até 1964. Depois disso, Paula montou uma pequena mercearia. Com o tempo, se transformou em lanchonete. E por fim, no La Paula. Em sua caminhada, se casou uma vez. Teve dois filhos. Um deles morreu há seis anos, vítima de infarto. O outro, Beto, era o seu braço direito. “Hoje ela nos deixa. Mas a memória que fica dela é a de alegria e amor, de perseverança e trabalho duro. Que todos se inspirem na Dona Paula”, disse o filho.
LA PAULA
Final dos anos 80. Esquina das ruas Doutor Pedrosa e Lamenha Lins, no Batel, em Curitiba. Um grupo de jovens estudantes mourãoenses, nem sempre com um troco no bolso, adotou a lanchonete La Paula como seu ponto de encontro. Ali, a base do bom e do clássico Rock and Roll, cerca de 50 jovens deixaram parte de suas histórias. Conversas sobre política, música e, principalmente, reverenciando o humor, marcaram não só aquela esquina, como a dona do local: a eterna companheira Paula.
O La Paula começou a funcionar ainda em 1966. Paula e Vitor, seu irmão, tomaram a frente na década de 70. Sócios, eram os dois quem organizavam a bagunça dos mourãoenses. Na década de 90, Vitor morreu. Paula continuava, até poucos dias, com a ajuda de seu filho Beto. Além da cerveja gelada, o bar conta com salgados e lanches feitos na hora. Está localizado no coração de Curitiba e, uma ida até o local, certamente não será em vão. Mas na próxima semana. Nesta, o luto foi decretado.
UM TEMPO INESQUECIVEL
Despretensiosos quanto ao futuro, os mourãoenses faziam suas obrigações durante a semana – que era apenas estudar – e nos finais de semana invadiam o La Paula. Era lá onde um dos líderes da turma, Brande Perdoncini – em memória - já havia estacionado sua Parati preta. Com o porta malas aberto, permitia ecoarem solos de guitarras de Jethro Tull, Led Zepellin, Black Sabbath, Doors e Deep Purple. Pronto. Cadeiras na calçada, cerveja gelada e muita prosa pra fechar a tarde. Caixas de cerveja a serem pagas. Brande dizia que o bar era um pedaço de Campo Mourão na capital. “Teve um dia que fechamos a rua. Os curitibanos não entendiam o que acontecia”, disse ele, numa antiga entrevista.
O final dos anos 80 encerrava o ciclo de ouro do bom rock nacional. Mesmo assim, aquele grupo enfatizava o velho e clássico Rock and Roll. Até hoje muitos daqueles jovens curtem as bandas que saltavam do porta malas do carro de Brande. E parecia uma esquina de contradições. A velha Curitiba, emoldurada nos seus costumes retranqueiros, não entendia o que acontecia ali. Pensavam: Quem são esses loucos. Por que tanta alegria. Por que um som tão alto? Mas somente quem estava longe da família entendia a verdadeira relevância daquele grupo. Da música alta. E da alegria, que a todos contagiava.
Paula tinha sempre um ombro pra acolher. Conversava em particular com a galera. Se preocupava com as doses a mais. Com a convivência regular da turma, o fiado tornou-se inevitável. Mas no final todos honravam as contas.
Com o tempo a turma foi diminuindo. Afinal, quem se formava tomava seu rumo. Alguns voltaram pra Campo Mourão. Outros continuaram na capital. Os casamentos também contribuíram para a ausência no La Paula. Lá pelo ano de 1995, a turma mourãoense já havia se dispersado por completo. E o La Paula, apesar de continuar a servir, já notava a ausência da turma. A música tinha silenciado e as risadas já não eram mais as mesmas.
Mas agora, a ausência maior será de Paula. Ela foi sepultada na última segunda feira. Numa cerimônia que não demorou mais de 15 minutos. A mulher batalhadora, que sempre encarou os obstáculos, perdeu a guerra à Covid. Naquela esquina, memórias e boas lembranças de uma empresária diferenciada. E de tempos, que definitivamente, não voltam mais.
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