Marcelo deixou sequelas
Até a última semana, Marcelo era casado e tinha uma filha, ainda pequena. Mas o destino o levava a uma outra paixão, além do casamento. Antes de se casar, ele teve um relacionamento com Rita – nome fictício. Desde então, jamais a esqueceu. Segundo relatos, em momentos de brigas ou afastamentos da esposa, a procurava. Mas, receosa pela relação, encerrou a conversa. Marcelo não aceitou. Agora, ameaçada, decidiu buscar uma medida protetiva. De nada adiantou. Se desenhava aí, o início de uma tragédia, que poderia acontecer. E aconteceu.
Então, na tarde do último sábado de fevereiro, Marcelo desrespeitou todas as leis – a dos homens e a dos céus. E, por escolhas próprias, deu fim a paixão. Ao invadir a casa de Rita, em Mamborê, a agrediu ferozmente no rosto. Trocou tiros com policiais. Atirou quatro vezes contra a mulher e, num último ato de desespero, disparou contra a própria cabeça. Ali, a tragédia havia se consolidado.
Sargento da Força Verde do 11º Batalhão de Polícia Militar de Campo Mourão, Marcelo estava impedido em se aproximar de Rita. Mas, acabou infringindo a lei. A mesma que sua farda tinha por missão, zelar. Então, por volta das 16h, foi até a casa da mulher. Com medo, ela ligou à PM, que se dirigiu até o local. Mas ele não estava, mais. A vítima então, foi orientada a solicitar novo apoio, caso voltasse. Mas não deu tempo.
Minutos após a equipe sair, Marcelo retornou. Mesmo ela ligando à polícia, ele invadiu a residência e arrombou uma das portas. Desesperada, Rita se escondeu no quarto e trancou-se no banheiro. Fora de si, o policial também botou a baixo a porta do quarto. Mas, ao escutar a equipe da PM chegar, foi até a frente do imóvel e efetuou dois disparos contra os polícias. Para se defenderem, os PM,s também devolveram dois disparos. Ninguém foi ferido.
Prevendo a tragédia, Marcelo adentrou a casa e se dirigiu até o banheiro. Primeiro a agrediu violentamente no rosto. Foram murros e coronhadas. Depois, disparou quatro vezes contra ela: nas mãos, joelho e pé. Em seguida, decidiu terminar com a própria vida. Caiu morto, em frente a Rita. Somente após ouvirem pedidos de socorro, dentro da casa, os policiais adentraram. Lá, a vítima foi socorrida e levada ao hospital. Apesar dos danos psicológicos e físicos, ela sobreviveu. E continua internada em um dos hospitais de Campo Mourão.
O trágico enredo teve início há alguns anos, antes de Marcelo se casar. Separada e com dois filhos, Rita o conheceu. Tiveram um relacionamento. Mas, terminaram. Tempos depois, o policial se casou com a atual esposa – por respeito, seu nome não será divulgado -, e com ela, teve uma filha. De acordo com familiares de Rita, durante os conflitos conjugais com a mulher, Marcelo a procurava. No entanto, ela não queria mais papo. Já tinha se decidido a evitá-lo.
Mesmo assim, a insistência do policial prevaleceu. E, não sendo correspondido, perdeu a cabeça. “Ele a ameaçava de morte”, afirmou um primo de Rita. Com medo, ela pediu uma medida protetiva da justiça. Marcelo, mesmo impedido, não quis saber. Burlou a lei e todas as demais regras humanas. Pôs fim a própria vida, e deixou sequelas em muita gente.
Rita possui 35 anos, é uma mulher bonita e guerreira. Sustenta os dois filhos – fruto do antigo casamento -, segundo familiares, sozinha. Para isso, abriu, há alguns anos, uma clínica de estética, em Mamborê. Se aperfeiçoou em sobrancelhas e, com o tempo, passou a ser admirada na profissão. Até chegar aonde chegou, estudou e se desdobrou em cursos pelo país. De acordo com pessoas próximas, uma mulher recatada. Resguardada. E sempre preocupada em cuidar e zelar dos filhos.
Marcelo era policial militar há 28 anos. Fabiano Viúdes, Chefe do Instituto Água e Terra (IAT), regional de Campo Mourão, o conhecia há quatro. Para ele, um excelente profissional. “Era dedicado e atento as novas legislações ambientais”, disse. Relatos indicam se tratar de um policial respeitado e tranquilo. Pacato e conciliador. “O difícil é isso. Entender como tenha cometido um ato desse. Fomos pegos de surpresa com a notícia. Ainda não dá para acreditar”, disse.
Na sexta feira, um dia antes da ação, Viúdes relatou ter conversado com Marcelo. Durante a prosa, teria revelado que sairia de férias. E que, ao voltar, pediria a reserva. Ou seja, Marcelo queria “pendurar a farda”. Se aposentar. Mas, no caminho, mudou de ideia, e acabou por fazer o que não devia. Deixou sequelas. Vítimas. E uma família, sem se despedir.
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