Mercedez, a mulher que conviveu com Pablo Escobar
Medelin, Colômbia, final de 1991. Mercedez ainda era uma adolescente. Tinha 17, quando foi apresentada a John. Sujeito amável e galanteador, a conquistou. Uma espécie de amor à primeira vista. Era dez anos mais velho que a moça. Então, começaram a namorar. Mas a notícia da gravidez, os uniu ainda mais. Agora, moravam juntos, num apartamento alugado, de alto luxo. Ele dizia apenas ser piloto de avião. A grana vinha farta. Nada faltava.
Com a barriga crescendo, Mercedez cuidava da casa. Vez em quando saía e comprava roupas ao bebê. Ia ao supermercado. Levava uma vida normal. Enquanto isso, John viajava muito, continuando sua jornada, digamos, secreta. Para ela, tudo estava explicado: ele era um piloto. Embora ainda desconfiasse que havia algo mais a ser contado. Mesmo assim, ele preferia o silêncio. Buscava não falar do trabalho.
Mas, tudo tem seu preço. E, a verdade, não pode ser escondida, para sempre. Um dia, John a convidou para sair. Iriam a um churrasco. Para sua surpresa, o local era em uma fazenda. O nome: “Hacienda Nápoles”. Pasmem, a fazenda de ninguém menos que, Pablo Emílio Escobar Gaviria, o maior narcotraficante que o mundo já conheceu. E foi ali, naquele momento, em que confirmou suas suspeitas. John era sim um piloto. O piloto de Escobar.
“Fui duas vezes até a fazenda Nápoles. Foram duas confraternizações entre Pablo, seus funcionários e suas famílias”, afirmou Mercedez. Segundo ela, as idas aconteceram antes da guerra travada entre os cartéis de Medelin e Cali. Uma disputa que vitimou cinco mil colombianos. Um tempo de atentados a bombas, a farmácias, supermercados, restaurantes, edificações e até, a um avião – quando morreram 107 pessoas. Além disso, Escobar também teria sido o responsável pelas mortes de três candidatos à Presidência - Carlos Pizarro, Bernardo Jaramillo e Luis Carlos Galán.
Mercedez lembra de um homem normal. Simples demais diante do que se tornou. Com o tráfico de drogas, Escobar foi um dos homens mais ricos do mundo. Perseguido pelo governo, construiu a própria cadeia – La Catedral -, se entregando à polícia depois de pronta. “Era um churrasco igual a tantos outros. Ele oferecia bebida e muita comida a todos ali. Conversava, dava risada, contava piadas. Pulava na piscina. Foi naquele momento que descobri para quem John trabalhava”, disse.
A figura de Escobar não a assustou. Ele era visto com bons olhos pela sua comunidade. Apesar do que fazia, Mercedez conta que ajudava muita gente. “Ele construiu bairros inteiros para que pessoas ligadas a ele morassem. E nestes locais, era frequente chegar com um caminhão abarrotado de dinheiro. Em filas, o pessoal recebia muito dinheiro. Era uma espécie de cala boca ao que fazia”, disse.
Para ela, se até 1991, Escobar tinha a admiração do povo, já em 1992, com o terrorismo implantado na Colômbia, passou a ser odiado. “Ele matou muita gente. Políticos, empresários, jornalistas. Ou simplesmente, pessoas comuns, vítimas de seus atentados”, revelou. A guerra entre os cartéis, levou o país à escuridão.
De volta a Medelin, a vida de Mercedez prosseguiu, sempre, com a barriga crescendo. No apartamento, John mantinha um dos quartos trancado. Somente ele tinha as chaves. Mas, num descuido, ela conseguiu ver o que escondia. Eram pilhas e pilhas de dólares americanos. Possivelmente, milhões. Tudo ali, a sua frente. Conta que o companheiro era o responsável por transportar os valores. Era um dos homens de confiança de Escobar.
Dois meses antes do nascimento da filha, Mercedez viajou até La Dorada, município onde moravam seus pais, numa propriedade rural. Ela queria o parto próximo a família. Então, lá chegando, o ônibus a deixou à beira da estrada. Precisou andar quase seis quilômetros, a pé, até chegar ao local. No trajeto, descobriu que o companheiro era procurado pela polícia.
Enquanto caminhava, um pequeno avião, possivelmente do governo colombiano, passou sobre ela. Observou papéis jogados da aeronave. Curiosa, se abaixou para pegar um deles. Eram folhetins da polícia. Neles, fotos de homens procurados. John estava lá, ao lado de Pablo Escobar. Incrédula, a moça continuou a caminhada. Mas o chão, já não existia mais.
John sempre dizia estar preocupado com a filha. Ele desejava estar perto da menina, quando ela nascesse. “Me disse que ia se afastar de Escobar. Queria parar com tudo e viver tranquilo, distante daquilo”, revelou. Mas isso não foi possível. Ele foi assassinado a tiros, em fevereiro de 1993, um mês depois que Érika, a filha, nasceu. Há regras no mundo do tráfico. Quando se entra, ninguém sai. E ele morreu sem a conhecer.
A relação entre Mercedez e “John Evencio Cano Tangarife”, durou um ano e meio. Se conheceram em 91. E, em janeiro de 93, a filha nasceu. Numa publicação do Jornal El Tiempo, de Bogotá, em 1993, uma lista com 130 nomes ligados a Escobar, incluía Evencio. Ele foi morto aos 30 anos. “Era uma boa pessoa. Humilde e bastante inteligente. Nunca fez curso para piloto. Aprendeu sozinho. E, durante o tempo que convivemos, nunca andou armado”, lembra a ex companheira. Também em 93 foi a vez de Escobar morrer. Acuado pela Força Nacional da Colômbia, foi morto a tiros
Mercedez agora, aos 46, vive no Brasil. Numa das cidades do Centro Oeste paranaense, região de Campo Mourão. Possui dois filhos. Érika está com 28 anos e, “embarazada”, grávida na língua espanhola. Juntas, levam uma vida tranquila nos rincões do Paraná. E, mesmo diante das costumeiras dificuldades que os brasileiros já se acostumaram, para elas, isso é nada perto do que já enfrentaram. Agora, a paz é o que importa.
Trata-se de uma mulher madura, meiga, guerreira. Fala baixinho, numa calma absurda. Para ela, o fato de ter conhecido Escobar é extremamente normal. Depois de ganhar a menina, Mercedez nunca mais retornou a Medelin, embora a vontade em apanhar parte da grana lá guardada, fosse imensa. Ainda mais, após as notícias do assassinato do companheiro. De certo modo, a vida seguiu. Ainda na Colômbia, ela se transformou numa pequena comerciante. No entanto, uma sucessão de tragédias familiares fez com que deixasse o país. Agora, no Brasil, os objetivos são de uma nova vida. Novas esperanças.
Pablo Emilio Escobar Gaviria (Com informações de Wikipedia)
Escobar nasceu em Rionegro, na Colômbia, no dia 1 de dezembro de 1949. Se estivesse vivo hoje, estaria com 72. Por coincidência, morreu um dia depois, mas em 1993, em Medelin, cidade onde armou a maior organização criminosa já vista neste planeta.
No narcotráfico, fez o que ninguém antes, havia conseguido. Foi chamado de “O Senhor da Droga”. As consequências o tornaram um dos homens mais ricos do mundo. Principalmente, com a exportação de cocaína aos Estados Unidos. Definitivamente, foi o traficante mais poderoso da história. Na ambição do poder, tornou-se impiedoso. Um devastador de almas.
Começou a carreira criminosa, segundo contam, roubando lápides para revendê-las a traficantes. Mais tarde, envolveu-se em muitas atividades criminosas com Oscar Bernal Aguirre, como a aplicação de golpes, venda de cigarros contrabandeados e bilhetes falsos de loteria. A ambição de infância era se tornar um milionário até os 22 anos.
No auge de seu poder, o cartel de Medelin produzia quinze toneladas de cocaína por dia. O que, segundo dados, daria a bagatela de meio bilhão de dólares com a venda. Era tanto dinheiro que, 10% da fortuna, era descartada por ano, principalmente, devido à "deterioração" por ratos que se infiltravam à noite, mordendo notas de cem dólares.
Em 1975, Escobar começou a desenvolver a sua operação de venda de cocaína. Ele mesmo voou várias vezes entre a Colômbia e o Panamá. O objetivo era contrabandear a carga aos Estados Unidos. Com a grana chegando, não poupou esforços e comprou 15 aviões novos e maiores, além de seis helicópteros.
Com o tempo, ele aposentou seu primeiro avião e o pendurou acima do portão do seu rancho, a Hacienda Nápoles. Ele está lá até hoje. Mesmo considerado inimigo dos governos dos Estados Unidos e da Colômbia, Escobar era um herói para muitos em Medelin. Ele tinha bons relacionamentos e trabalhou para melhorar as condições de vida da população pobre da cidade.
Fã de esportes, é creditada a ele a construção de estádios de futebol e o financiamento de times na cidade. Escobar sempre se esforçou para cultivar uma imagem de Robin Hood e frequentemente distribuía dinheiro aos pobres. A população de Medelín costumava ajudá-lo, omitindo informações das autoridades ou fazendo o que quer que fosse para protegê-lo.
Em 1992, Escobar voltou-se ao governo colombiano para evitar sua extradição aos Estados Unidos ou seu assassinato pelo cartel rival. Então, foi "preso" em sua luxuosa prisão particular, La Catedral, que ele próprio construiu. Para isso, negociou um acordo com o governo colombiano, segundo o qual seria preso por uma sentença de cinco anos, além da garantia de sua não extradição aos americanos.
Entretanto, sua "prisão" parecia muito mais um clube particular ultra seguro. Ele não se importou muito com sua sentença. Era visto várias vezes fora da prisão, fazendo compras em Medelín, em festas, jogos de futebol e outros lugares públicos. Após a divulgação de fotos de seus passeios e, de acusações de que teria matado muitos de seus parceiros de negócios, quando o visitavam em La Catedral, a opinião pública forçou o governo a agir. Quando um oficial do governo tentou transferir Escobar para uma outra prisão em 22 de julho de 1992, ele escapou com medo de ser extraditado aos Estados Unidos.
A guerra contra Pablo Escobar acabou em 2 de dezembro de 1993. Estava escondido em um bairro de classe média em Medelin. As autoridades o cercaram. Um tiroteio com Escobar e seu guarda-costas, Álvaro de Jesús Agudelo - "El Limón" -, se seguiu. Os dois tentaram fugir correndo pelos telhados de casas adjacentes. A ideia era chegar a uma rua atrás. Ambos foram baleados e mortos pelas forças policiais colombianas.
Escobar foi atingido por dois tiros na perna, no dorso e por um tiro fatal através da orelha. Após sua morte e a fragmentação do Cartel de Medelín, o mercado de cocaína logo tornou-se dominado pela rival, o cartel de Cali. Pelo menos, até meados dos anos 1990, quando seus líderes também foram mortos ou capturados.
A imagem de Robin Hood que Escobar havia cultivado continuou a ter influência duradoura na cidade de Medelín. Parte da população, especialmente entre os mais pobres, foi auxiliada por ele enquanto estava vivo e lamentou a sua morte. Cerca de 25 mil pessoas estiveram presentes em seu sepultamento. A esposa de Escobar e os dois filhos, continuam vivos e moram na Argentina.
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