Netão, o vendedor de tudo

Netão, o vendedor de tudo
Por: Dilmercio Daleffe


Conhecido como “Netão”, ele sempre viveu do comércio. Na trajetória, desde a juventude, passou por planos econômicos. Foi “roubado” em todos. Mesmo assim, jamais desistiu. Com o trabalho, formou seis, dos oito filhos. Nunca casou. E vive a vida como sempre quis: na própria liberdade. Entre ser um bacana engomadinho, e um sujeito simples, optou por ser ele mesmo. E, aos 61, José de Souza Neto, já não sabe mais quantos amigos fez sobre o balcão da sua empresa.

“Netão” da Instalcampo, é um sujeito do bem. Não há quem adentre sua loja, no centro de Campo Mourão, sem receber um sorriso. O cara é diferenciado. Daqueles que, pra fidelizar o cliente, devolve troco a mais. Trata-se de um gentleman do comércio. Vendedor de raiz. E jamais fez um único curso pra isso. Conta que o comércio veio através do DNA dos pais. Nos idos de 60, tinham mercado e açougue em Cianorte. Foi assim que criaram os nove filhos.

Com o tempo, a família mudou a Maringá. “Netão” foi junto. Aos 23, arrumou emprego como vendedor de poços artesianos. Viajava por toda a região, inclusive, em Campo Mourão. Vendo a possibilidade de bons negócios por aqui, montou em 1989, a Hidro Bombas. Era apenas uma portinha, próximo ao Corpo de Bombeiros. Desde então, adotou a cidade, como a sua cidade. Nunca mais saiu.

Conversador, foi também, nos áureos tempos, um galanteador. O resultado não poderia ser outro. Teve oito filhos, com sete mulheres. Para ele, estar presente na vida da própria prole, é o bem maior da vida. “Sempre estou com eles. São tudo pra mim. Formei seis. Uma está quase lá. E o mais nova será médica. Tem somente 13, mas já sabe o que quer”, disse.

É ali, junto ao caixa, atrás de um vidro, onde Neto permanece o dia inteiro. Acompanha o entra e sai dos clientes. Faz suas negociações. Administra as vendas. Ajuda os funcionários. Viciado em trabalho, conta que adquiriu o prédio e a própria empresa, ainda em 1993. “Comprei de porteira fechada”, fala. Desde então, são 28 anos comendo marmita. Isso porque, chega as 7h da manhã e só deixa o local às 18h. Ele sempre foi assim. Embora, desde o último ano, tenha começado a fechar para o almoço. “Foram mais de 27 anos sem fechar a loja. Os funcionários saiam pra almoçar e eu ficava. Entre as garfadas da marmita, atendia e vendia”, revelou.

Solteiro e sem compromisso em ir para casa, Neto também comprou uma cama e a instalou na própria loja. Até o ano passado, quando seus colaboradores chegavam do almoço, ele aproveitava para tirar uma pestana, de 30 minutos. Coisas do “Netão”. Há alguns anos, diagnosticado com diabetes e pressão alta, foi obrigado a perder peso.

“Estava com 128 quilos. Fiz uma bariátrica e hoje estou com 93. Melhorou tudo”, diz. Com a saúde em dia, não parou com a velha e gelada cerveja, o seu líquido dos deuses.
“Netão” é um sujeito pacífico. Destemido. E perseverante. Estudou somente até o segundo grau. Mas o trabalho falou mais alto. Mandou o sonho de ser advogado, às favas. E, sob os cuidados de Deus, acredita ser um grande abençoado. Diante das centenas de amigos que fez, sobre o balcão, deseja continuar assim. Vivendo a alegria e a simplicidade da vida.

No começo, a empresa era voltada a materiais elétricos. Mas bastou Neto comprá-la, pra iniciar a diversificação. Comerciante que é, viu a necessidade em ter mais ofertas. Um raciocínio prático. Mais produtos, maiores vendas. Hoje, além de elétrica, oferece de tudo, um pouco. De vassouras, a fogões. E ele sabe vender. Na vida de empresário, já escorregou e patinou. Não se esquece das vezes que planos econômicos levaram o seu. E jamais devolveram. “Teve uma vez que o Collor pegou tudo o que tinha. Acordei com 50 cruzeiros na conta. Deixou de esmola. Uma espécie de: toma seu trouxa. Jamais me devolveu”, disse rindo.

Torcedor do Palmeiras, Neto passa quase todos os finais de semana em seu sítio. Ele sempre adotou o mato como refúgio. Gosta de pescar, mexer com os seus bichos. Na verdade, é um cara simples demais, pra tanta história a ser contada. E, quando você adentrar a loja e, lá no fundo, ver um sujeito de poucos cabelos, mas com um baita sorrisão estampado, pode ter a certeza: é o “Netão”.


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