Neusa, Maria, Denise. Voluntárias da esperança
Há oito dias Luis Favarão está na Santa Casa de Campo Mourão. Mas não está hospitalizado, não. É somente o acompanhante do filho, que se recupera de um pós operatório. Aos 78 anos, ele veio de Goioerê. Não conhece ninguém na cidade. E, com a grana curta, não fosse a alimentação distribuída gratuitamente pelas voluntárias do projeto “Refeição Fraterna”, estaria em maus lençóis. “Me sinto acolhido. É muito bonito o que elas fazem. É um espetáculo”, revelou.
Luis é apenas um, entre cerca de 900 pessoas por mês, beneficiados pela caridade dos voluntários. O projeto foi criado pela pedagoga Neusa Ciriaco Coppola, ainda em 2003. Época em que servia a refeição sob as marquises do hospital. Hoje, após 20 anos, ela ganhou um refeitório, na própria Santa Casa, para atender os acompanhantes. Lá, num local cercado por humanidade, pessoas sem condições financeiras, de outras cidades, conquistam um direito mínimo às suas existências: se alimentarem.
O programa conta com mais de 100 pessoas. Gente simples, comuns. Mas com uma vontade enorme em proporcionar o bem. A cada dia, uma voluntária recebe a missão em oferecer o alimento. Então, com recursos próprios, faz a comida em casa e a leva até o hospital. De graça. Sem nada cobrar por isso. Ao contrário, elas ganham. “Nós recebemos muito por isso. Mas através de carinho e um bem a nós mesmas. É gratificante ajudar o outro. Acabamos recebendo mais do que oferecemos”, diz Neusa.
No entanto, mais do que a própria alimentação, o objetivo dos voluntários é oferecer uma acolhida aos corações dos acompanhantes. Carregados pelas incertezas e pela dor, muitos ali são confortados apenas com as palavras de carinho e fé. “Uma única palavra já é o bastante para que elas renovem a fé. São pessoas sofridas que passam dias terríveis na esperança que seus familiares melhorem”, explica Neusa, a coordenadora do projeto.
Voluntária há seis meses, Maria Sirlei Ratti preparou o jantar da última terça feira (14). Em suas panelas radiantes, completamente ariadas, levou salada de repolho e cenoura, arroz e feijão. Neusa fez carne moída e batatas. Também levaram os talheres, pratos e refrigerantes. A sobremesa, bolo de pão de ló, foi levado por Denise Tavares da Silva. Uma moça ainda bastante jovem. Mas que descobriu cedo como é bom semear solidariedade.
“Eu passei 43 dias na Santa Casa acompanhando meu marido com câncer. Além da minha dor, eu compartilhava o sofrimento de outras dezenas de pessoas, muitas de fora da cidade. E vi o quanto esta refeição as confortava. Depois de enterrar meu marido, eu decidi participar do projeto. Não sairei mais dele”, disse Maria.
Neusa conta que a ideia surgiu em 1998. Ela estava acompanhando a sogra, no Hospital Erasto Guertner, em Curitiba. Isolada da família, dos amigos e da própria cidade, se viu como uma ilha. Mas bastou um mínimo de conforto, como um simples chá, torradas e palavras de fé, para perceber como é importante ter alguém do seu lado. Anos depois, colocou o projeto em prática. “A ideia só vingou devido ao apoio. Sem ele, nada iria acontecer”, explicou.
Hoje, a Refeição Fraterna é servida todas as noites na Santa Casa de Campo Mourão. De segunda a segunda. Não há exceções. Não existem feriados. Os voluntários não podem falhar. E é por este motivo que o engajamento já é considerado como uma missão. Eles não dependem do município. Do estado. Ou do governo federal. Fazem o que fazem com os próprios bolsos. E jamais se queixaram por isso. A bem da verdade, faltam palavras para definir a vocação de cada um deste voluntários. Pessoas preocupadas com pessoas.
Além da alimentação, o grupo ajuda os acompanhantes com roupas, brinquedos às crianças, livros. Fora isso, também estão prontas a acolher. Conversar. Orar. Escutar. Entender. Acreditar. E, por ser um projeto tão especial, o grupo é formado por evangélicos, católicos e espíritas. Ali, são todos iguais. Com uma causa única.
Não bastasse tudo o que faz, o projeto ainda busca colaborar com a Santa Casa em outros setores. Atualmente, o grupo está arrecadando dinheiro à compra de lençóis ao hospital. Até ontem, já tinham na conta pouco mais de R$4 mil. Pouco, diante da necessidade que a unidade necessita.
A durabilidade de lençóis e fronhas de um hospital é, geralmente, de seis meses. Principalmente, devido ao processo rigoroso de lavagem, com cinco produtos. O grupo já fez a cotação com a empresa fornecedora à Santa Casa. Eles oferecem o menor custo. O objetivo é adquirir pelo menos, 200 lençóis e 200 fronhas.
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