Os recortes de Luis Carlos Santana
Distante do esporte, Luis Carlos Santana, definitivamente, não é mais o mesmo. Sua vida pode ser resumida no antes e no pós pandemia. Depois de dedicá-la inteiramente à alegria das atividades desportivas, ela ficou entristecida. De uma certa forma, melancólica. Até pouco tempo, Santana, como é conhecido, atuava na Associação Recreativa da Coamo (Arcam). Mas com tudo parado, acabou desligado. No entanto, se os campeonatos se foram, sobraram as recordações. E elas, são muitas. Organizado, durante duas décadas fez recortes de jornais. Matérias sobre eventos, os quais desenvolveu. Tudo está guardado. É o que restou, além de um sorriso que jamais saiu de seu rosto.
No jargão, Santana é o cara. Destemido na realização de inúmeras atividades esportivas, colaborou com toda a cidade. É fato. Em Campo Mourão, pensou-se em esporte, lembrou-se de Santana. E sempre, com um vasto e poderoso sorriso. Uma alegria contagiante, de um profissional que sempre teve paixão pelo que fez. Mas, se esporte é vida, então, a vida parou.
Aos 57 anos, Santana está desempregado. Casado e com três filhos, esta semana ele mostrou uma caixa com 22 álbuns com recortes de jornal. A maior parte, desta própria TRIBUNA. São lembranças desde 1992, quando ainda trabalhava junto ao Sesi. “Fazia os torneios e campeonatos industriais. Passei a pedir espaço nos meios de imprensa da cidade. Graças a Deus sempre tive ajuda. E fui guardando os recortes numa pasta. Quando vi, já eram centenas”, disse. Na verdade, são 1604 recortes de jornais. Tudo guardado em 22 pastas, durante 22 anos. Cada uma com o respectivo ano. Pra isso, teve a ajuda da própria família.
Santana é profissional de Educação Física. Sua vida foi voltada a isso. No entanto, passou por outros empregos, digamos, diferentes de sua área. Em 1982, trabalhou com vendas na Hermes Macedo. E foi lá quando iniciou a ideia em montar um time de futebol. Ele sempre foi um atleta das “peladas”. Em seguida, atuou no antigo Posto Boiko. Já em 1992, passou a trabalhar no Sesi. Foi onde tudo começou, efetivamente.
Agora, como monitor de esportes, colaborou em criar os Jogos Industriais (Jincam). Inclusive, com a ajuda de sua empatia – o sorriso -, por duas vezes a cidade obteve recordes na participação de empresas. “Muitas vezes eu ia nas empresas pedir a adesão dos empresários. Todos me recebiam muito bem”, disse. Mas o ciclo foi encerrado em 2000, ano que o Sesi encerrou as atividades em Campo Mourão.
Sem perder tempo, Santana foi contratado pela OM Fashion. Onde também trabalhou como coordenador de eventos. E foi neste período que colaborou com a prefeitura e os clubes 10 de Outubro e Mourãoense, realizando torneios esportivos. Conhecido pelo profissionalismo no setor, era costumeiramente convocado para dinamizar os eventos. E sempre, tudo deu certo.
Além do esporte, Santana também se formou em Administração de Empresas, com MBA em gestão de pessoas. Atualmente cursa MBA Marketing e Relacionamento de Serviços. Além de “peladeiro”, também foi árbitro de futebol. Mas hoje, sobraram as pedaladas, prática que desenvolve há anos. “Temos que manter o corpinho”, brincou. Além dos recortes de jornal, ele também acumulou bem mais que 100 dvd´s com imagens das atividades. Tudo, organizadamente, guardado.
Passado o tempo, era hora de assumir outro importante compromisso: o departamento de esportes da Arcam. Foram 17 anos de empenho, de 2003 a 2020. Dentre as atividades, a Copa Coamo. “Era um evento que proporcionava a alegria não só dos jogadores. Mas de todas as suas famílias”, lembrou. Além do futebol, ele foi responsável por outros inúmeros torneios internos, como basquete, tênis de mesa, vôlei. Santana era muito feliz ali. Até chegar a pandemia. Seu mundo desmoronou.
“Acho que as atividades físicas de contato deveriam ter parado sim. Vemos hoje que os riscos são muito grandes”, disse. Desligado da associação, Santana passou a trabalhar num depósito de construção da cidade. “Mas não deu muito certo”, disse ele, mais uma vez, com o sorrisão. Mesmo desempregado, o sujeito insiste na sua marca maior. Não tem jeito.
O modo incansável como levou a vida desportiva, também proporcionou ideologias coletivas, sempre, em favor do bem. Por diversas vezes, ajudou voluntariamente na realização de torneios no Alto Alegre e Jardim Aeroporto. O objetivo: arrecadar recursos às comunidades. E foi por estas iniciativas, possivelmente, que atraiu um rol de amigos, também todos voluntários. Juntos, dedicaram tempo e compaixão a uma causa justa: solidariedade.
De um modo geral, sem a prática de esportes – campeonatos e torneios -, a cidade ficou chata. Triste. Insuportável. Até março de 2020, a imprensa local divulgava todos os dias, ao menos, um evento. Eles sempre moveram Campo Mourão. Mas, com a chegada do vírus, tudo mudou. Tudo acabou. E, embora Santana esteja afastado do que mais gosta, seu sorriso continua vivo. Principalmente, porque sabe que um dia, o caos passará. E a vida, ressurgirá.
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