Viktor já está na Ucrânia. E não sabe se voltará

Viktor já está na Ucrânia. E não sabe se voltará
Por: Dilmercio Daleffe

Nascido em Nizhny Novgorod, território russo, Viktor esteve no Brasil há poucos dias. Separado de uma brasileira – com quem conviveu até 2020 nos domínios de Vladmir Putin -, veio visitar a única filha, ainda pequena, em Balneário Camboriú. É que ele não tem certeza se poderá vê-la novamente. Capitão do Exército russo, adentrou as fronteiras da Ucrânia na última segunda feira. E, mesmo não desejando a guerra, as cores de sua bandeira acabaram falando mais alto. Agora, é matar ou morrer.

Devido a uma série de regras do governo Putin, Viktor não pode revelar o sobrenome. Muito menos enviar fotos do front. Aos 30 anos, ele se junta a outros milhares de soldados para tirar as diferenças de uma nação irmã, cujos costumes são semelhantes em quase tudo. Conta que entrou às tropas muito cedo. Desde então foi realocado a Moscou, no 137º Batalhão de Reconhecimento. E, mais adiante, inserido à 16ª Brigada de Forças Especiais de Tambov.

Na Rússia conheceu, se apaixonou e depois se casou com uma professora de línguas. Brasileira, teve uma filha com Viktor. Mas, devido às pressões da farda, desejou deixar o país. A bem da verdade, a esposa acabou se divorciando de Putin, o responsável por sempre entoar o som de ameaças no continente. E sim, as “tretas” do governante russo fizeram com que a esposa sumisse de lá, já há alguns anos. “O consenso do Brasil sobre patriotismo é bem diferente do nosso. Porém, entendo perfeitamente o lado da minha ex mulher”, disse ele.

“Em um contexto humano, é claro que eu e a maioria dos russos não concorda e também não quer o conflito com a Ucrânia. Por mais que existam todas as diferenças entre nós - conflitos ideológicos e políticos -, continuamos sendo humanos. Muitos russos contém laços com a Ucrânia e vice-versa”, explicou.

Viktor conta que os sentimentos de ódio entre Rússia e Ucrânia são antigos, principalmente, pelos mais velhos. No entanto, as novas gerações, de ambos os países, não sentem mais isso. “O que acaba caindo ainda mais o apoio sobre a guerra de ambas as partes. Do meu ponto de vista, eu odeio tudo sobre este conflito. Principalmente, pelo meu povo, e por ter que ver camaradas em serviço. Além de civis sofrendo com um conflito de qual não gostariam de estar envolvidos”, afirmou.

E, em se tratando de uma guerra, ele sabe que poderá não voltar. “Pessoalmente não tenho medo de morrer. Eu uso minha vida para defender as pessoas da quais eu amo. Para proteger meu país, meus camaradas em campo. A vida é algo da qual temos de estar preparadas a dar para o bem. Porém, meu maior medo é deixar minha filha. Tenho medo de não poder vê-la novamente”, disse. “Vim ao Brasil há alguns dias, pois já sabia que seria escalado. Então tirei licença para vir ver minha família antes de partir”, explicou.

Para o capitão russo, essa guerra, infelizmente, é de toda a sua nação, mesmo a população, querendo ou não. “Minha posição contrária a esta guerra não diz que ela não é minha. Não posso dizer que a guerra é dele – Putin. Mas posso dizer que ações e decisões tomadas por pessoas de alto poder foram o principal estopim de tudo, e nós, infelizmente, somente arcamos com consequências”, afirmou.

A entrevista com Viktor ocorreu via Whatsapp, na última terça (01 de março). Eram 17h quando revelou já estar do lado de lá da fronteira com a Ucrânia. Ou seja, dentro da Ucrânia. “Estou aguardando o avanço das tropas. Não posso revelar nada mais”, disse.

O contato com o capitão russo só foi possível porque um mourãoense, Bruno, ficou amigo de Viktor através de um jogo de guerra on line, conhecido como “Arma 3”. Devido a proximidade com o “camarada”, a reportagem pediu uma entrevista. O que foi cordialmente aceita. Bruno revelou que Viktor é um dos integrantes do game já, há tempos. Há uma semana, os amigos virtuais foram pegos de surpresa ao serem comunicados sobre a ida do gamer à guerra. “Todos nós fomos surpreendidos com a notícia. Torcemos pra que ele volte vivo. E que o conflito acabe o quanto antes”, disse o amigo


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