Viviane renasceu no Natal

Viviane renasceu no Natal
Por: Dilmercio Daleffe


22 de dezembro de 1979. Centro de Campo Mourão. Naquela noite, o produtor rural Alci Bonfim, estacionava o carro na Avenida Capitão Índio Bandeira. O comércio estava aberto. Muita gente nas ruas. Diversão e compras. Então, ao lado da esposa, Clarice, saiu do veículo. A pequena Viviane, ainda aos quatro anos, largou a mão do pai e, ao correr em direção a mãe, foi atropelada. O impacto foi grande. A criança foi arremessada por metros. Caiu desacordada. Em coma. Teve fêmur e clavículas fraturadas. Em choque, os pais desabaram. Estavam atordoados. Não sabiam o que fazer.

Exatamente em frente ao acidente, existia a Dipar. A empresa estava aberta. E, em seu interior, um homem ouviu a freada e, depois, o barulho da pancada. Sem pensar duas vezes, pulou o balcão e correu à rua. Apanhou a garotinha. A colocou em seu carro e dirigiu até o hospital – hoje a Policlínica. Lá, ao lado de Alci e Clarice, ouviu de um médico que, o melhor a fazer, era transportá-la até Maringá. E foi o que ele fez. A bordo de seu Landau, voou na estrada. Queria salvar a criança. Fez o percurso em cerca de 40 minutos. O homem era Dilmar Daleffe. Empresário e, um dos idealizadores da Santa Casa, morreu há seis anos. Vítima de câncer. Mas a história, jamais havia sido contada. E agora, é narrada pelos pais da menina. Ela foi salva. Está com 45 anos. Casada. Tem filhos. Inclusive, já é avó.

Alci está com 64 anos. Continua na lida do campo. Mora em Piquirivaí, ao lado da companheira Clarice. Tiveram três filhos. Viviane é a mais velha. Embora sofra com a memória, não consegue esquecer daquela noite. “Ela estava de mão dadas comigo. Mas, ao ver sua mãe, do lado de lá da rua, me largou e atravessou. O carro a pegou em cheio”, lembra o pai. Atordoado com a cena, ele apanhou um pedaço de pau, e correu atrás do motorista. Mas ele havia fugido. Não ficou para prestar socorro.

“Nós não sabíamos o que fazer. Quando vi, Dilmar já tinha tomado à frente. Pegou a Viviane e a colocou em seu carro. Fomos até o hospital daqui. Mas, sem estrutura naquela época, nos sugeriram ir a Maringá. Dilmar foi o primeiro a aceitar”, disse Clarice. Então, no Landau, Dilmar disparou. Alci, a esposa e uma enfermeira foram no banco de trás. O hospital de Maringá já havia sido comunicado da paciente. Em 40 minutos, ela já era recebida.

“Quando chegamos lá, fomos desenganados pelo médico. Viviane estava em coma. Ele disse pra gente rezar. Que seria difícil reverter o quadro”, conta a mãe. Católicos, a família iniciou as preces. Entre desespero e fé, restou a esperança. Sem mais por fazer, Dilmar se despediu de Alci. Disse para acreditar. Que daria certo. “Antes de nos deixar, ainda tirou dinheiro do bolso e me deu. Dilmar foi o anjo enviado por Deus para salvar minha filha. Jamais teria como pagá-lo pelo que fez”, revelou Alci.

A esperança e a fé, fizeram com que a menina acordasse no dia seguinte. E tudo começou a melhorar. Ela permaneceu internada por 30 dias. A família passou o Natal no hospital. “Foi o melhor Natal que poderíamos ter. Ganhamos nossa filha novamente. Foi um novo presente de Deus”, contou Clarice.

Preocupado apenas com o estado da filha, Alci já até havia se esquecido de procurar o motorista. Mas, dias depois, um homem chega ao hospital em Maringá. Buscando informações sobre a menina, ele encontrou Alci. Se apresentou. Pediu desculpas. Clamou perdão. E, ainda, arcou com todas as despesas na unidade hospitalar. “Claro que o perdoei. Ninguém atropela de propósito. Ele errou em fugir. Mas o perdoei de coração”, explicou.

Com o tempo, Alci passava pela empresa de Dilmar. E o visitava. Mas, o encontro entre ele e Viviane, jamais aconteceu. “Ele ficou de vir na nossa casa conhecê-la. Mas nunca deu certo. Em todas as vezes que nos vimos, ele perguntava como ela estava”, lembrou. No entanto, para ele, a semente da construção da Santa Casa de Campo Mourão, aconteceu naquela noite. “Foi ali, no momento em que salvava minha filha, me olhou e disse: é muita estupidez termos que levar a menina até Maringá. É uma vergonha a cidade não estar preparada para salvar vidas”. Alci não tem dúvidas que, depois daquela noite, Dilmar iniciou o trabalho para construir a Santa Casa. O atropelamento pode ter mudado a história hospitalar da cidade. “Tanto é que ele me falou em dar o nome da Viviane à Santa Casa. Aquilo despertou Dilmar”, disse Alci.

VIVIANE

Aos 45 anos, Viviane está casada desde os 20. Na caminhada, teve dois filhos, Giulia, 21, e Pedro, 18. A menina foi mãe recentemente. Tornando Viviane avó, bem mais cedo do que esperava. Professora, ela trabalhou até o ano passado. Mas, com problemas de saúde, quase não saiu da casa este ano. Muito também, devido a pandemia.

Conta que há dez anos, descobriu sofrer de fibromialgia – dores e fraqueza muscular generalizada, e reumatismo – doença óssea. Ou seja, a uma década, é vítima de dores descomunais. Por isso, passou a ser uma pessoa de pouco convívio social. Fica mais em casa. Às vezes, isolada dentro do próprio quarto. A saída são remédios diários.

Viviane diz não lembrar do acidente. Era muito nova. No entanto, passou a conhecer a história através dos pais. “Sempre disseram que fui salva pelo Dilmar Daleffe. Um anjo colocado em minha vida”, disse. Mas, tímida, nunca o procurou. Embora vontade, jamais tenha faltado. Enquanto caminha, lá atrás, Viviane sabe que foi abençoada. E é por isso que, hoje, sua principal orientação, vem das palavras de Deus.


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